
Em meio à exuberante Mata Atlântica que abraça Florianópolis, uma árvore se destaca no horizonte, colorindo de amarelo-ouro a paisagem dos morros da Ilha de Santa Catarina durante a primavera. É o guarapuvu (Schizolobium parahyba), declarado oficialmente como árvore símbolo da capital catarinense através da Lei Municipal 3.771, de 15 de junho de 1992.
Neste artigo, vamos explorar as características, a importância ecológica, cultural e histórica desta espécie emblemática que representa não apenas a biodiversidade da região, mas também carrega consigo a memória e tradições dos povos que habitaram a ilha ao longo dos séculos.
Nomes populares e origem do termo
O guarapuvu é conhecido por diversos nomes ao longo do território brasileiro: bacurubu, bacuruvu, gapuruvu, garapuvu, guapuruvú, ficheira, pau-de-vintém, bandarra, fava-divina, guavirovo, entre outros. Em Florianópolis, predomina o nome “guarapuvu” ou “garapuvu”, termo que tem origem na língua tupi-guarani.
O nome científico Schizolobium parahyba também tem uma história interessante. Foi inicialmente descrito pelo botânico José Mariano Vellozo em 1825 como Cassia parahyba, sendo uma homenagem ao Rio Paraíba, onde a espécie foi primeiramente observada. O termo “Schizolobium” vem do grego, onde “schizo” significa dividido e “lobium” significa vagem, referindo-se à característica de suas vagens que se separam em camadas quando maduras.
Características botânicas

Porte e aparência
O guarapuvu é uma árvore de grande porte, podendo atingir impressionantes 20 a 30 metros de altura na idade adulta, com um diâmetro de tronco de 60 a 80 centímetros à altura do peito. Seu tronco é retilíneo, elegante e majestoso, com ramificações apenas na parte superior, formando uma copa alta e aberta que oferece pouca sombra.
Uma de suas características mais notáveis é a casca lisa e acinzentada, marcada por cicatrizes deixadas pela queda das folhas. A árvore é semicaducifólia, perdendo suas folhas no inverno, quando então surgem as flores.
Folhas
Suas folhas são compostas bipinadas, podendo alcançar até 1 metro de comprimento, com 30 a 50 pinas opostas. Cada pina contém entre 40 e 60 folíolos de 2 a 3 centímetros de comprimento. As folhas se agrupam próximo às extremidades dos ramos e caem completamente na estação seca.

Flores e frutos
A floração do guarapuvu é um espetáculo natural que ocorre entre outubro e dezembro, quando suas vistosas flores amarelo-ouro despontam em racemos terminais de até 30 centímetros de comprimento. Este fenômeno colore os morros de Florianópolis, especialmente nas regiões da Lagoa da Conceição e Rio Vermelho.
Os frutos são vagens que amadurecem entre abril e julho, contendo uma única semente ovalada, lisa e marrom. Estas sementes são dispersadas pelo vento, contribuindo para a propagação natural da espécie.
Importância ecológica
O guarapuvu é uma espécie nativa da Mata Atlântica brasileira, e como espécie pioneira, tem um papel fundamental na recuperação de áreas degradadas. Seu crescimento extremamente rápido – podendo atingir 3 metros por ano – faz dela a árvore nativa brasileira de mais rápido desenvolvimento. Esta característica, aliada à sua altura e à copa que proporciona sombra parcial, cria condições favoráveis para que outras espécies possam se desenvolver sob sua proteção.
Sua floração também é atrativa para polinizadores, especialmente abelhas, contribuindo para a biodiversidade local. Além disso, suas raízes profundas ajudam a estabilizar o solo, prevenindo a erosão, enquanto suas folhas, ao caírem, fornecem nutrientes que enriquecem o solo.

Importância cultural e histórica
O guarapuvu representa um capítulo importante na história dos povos que habitaram a Ilha de Santa Catarina. Para as comunidades indígenas carijós e, posteriormente, para os colonizadores luso-açorianos que se estabeleceram na região a partir do século XVII, esta árvore tinha um valor inestimável.
A canoa de um pau só
A madeira do guarapuvu, por ser leve, macia e de fácil entalhe, foi tradicionalmente utilizada pelos pescadores artesanais para a construção das famosas “canoas de um pau só” ou “canoas de um tronco só”. Esta técnica de origem indígena consiste em esculpir uma embarcação inteira a partir de um único tronco de árvore.
Na Costa da Lagoa, comunidade pesqueira tradicional de Florianópolis, esta tradição foi mantida por gerações. Entretanto, com a declaração do guarapuvu como árvore símbolo da cidade em 1992 e a consequente proibição de seu corte, apenas troncos ou galhos derrubados naturalmente por vendavais ou raios podem ser utilizados para este fim, mediante autorização da Fundação Municipal do Meio Ambiente (FLORAM).
Cultivo e cuidados
O guarapuvu é uma árvore que requer espaço amplo para desenvolvimento, não sendo recomendada para ambientes urbanos restritos como calçadas ou canteiros pequenos. Por ter madeira relativamente frágil e pouco resistente a tempestades, deve ser plantada longe de edificações e áreas de circulação intensa de pessoas.
Para seu cultivo, recomenda-se:
- Exposição a sol pleno
- Solo fértil enriquecido com matéria orgânica
- Irrigação regular no primeiro ano após o plantio
- Preferência por locais úmidos, como margens de rios (a espécie tolera encharcamento)

Propagação
A multiplicação do guarapuvu é feita por sementes. Devido à dormência natural, recomenda-se a quebra de dormência através de técnicas como:
- Escarificação mecânica (desgaste do tegumento da semente no lado oposto ao hilo)
- Imersão em água quente seguida de repouso na água por 1-2 dias
Curiosidades
- O guarapuvu pode viver entre 40 e 50 anos em áreas de plantio, mas em áreas de ocorrência natural há registros de exemplares com mais de 70 anos.
- É considerada a árvore nativa brasileira de mais rápido crescimento.
- Em estudos recentes, verificou-se que mudanças climáticas podem afetar o ciclo de floração da espécie, como ocorreu em 2023, quando o florescimento foi atrasado devido a um inverno mais quente que o habitual.
- As sementes e folhas do guarapuvu têm sido estudadas por pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia quanto à sua ação contra os efeitos lesivos de acidentes ofídicos.
Conclusão
O guarapuvu é muito mais que uma simples árvore em Florianópolis – é um símbolo vivo da história, da cultura e da identidade da Ilha de Santa Catarina. Sua presença majestosa nas paisagens, sua importância ecológica e seu valor cultural para as comunidades tradicionais fazem dela um patrimônio natural que merece ser preservado, valorizado e celebrado.
Ao contemplarmos o espetáculo de suas flores amarelas colorindo os morros da ilha a cada primavera, somos lembrados da riqueza natural de nossa terra e da importância de proteger as espécies nativas que tornam a cidade tão especial.
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